Shoes made in Brazil - Editorial Jornal ABC - Grupo Editorial Sinos

O setor calçadista é uma das atividades econômicas que estão embarcando menos em um ano que começou promissor. Entre janeiro e agosto, a queda em volume chegou a 25% na comparação com igual período do ano passado. Consequência da pandemia, que impactou fortemente os principais destinos – a começar por Estados Unidos e Argentina. Não está em jogo a qualidade do produto nem a capacidade das fábricas brasileiras, reconhecidas internacionalmente. A expertise da cadeia produtiva poderá servir de base para recuperar os meses perdidos e ir além. E o calçado brasileiro pisar muito mais forte no mercado externo. Não se trata de uma discussão momentânea, baseada na natural reativação de mercados que começa a acontecer e tampouco no momento favorável do câmbio para quem exporta. É preciso apostar nas exportações como negócio de médio e longo prazos, de perfil estruturante, parte de uma necessária mudança de conceitos. A mesma reinvenção do normal que forçou ajustes inimagináveis no segmento de feiras e eventos, por exemplo, deve ser vista como oportunidade de ouro para o setor retomar e fortalecer ainda mais sua vocação exportadora, que fez história e foi fundamental no desenvolvimento da região. Seja com marca própria ou de terceiros, o fabricante do calçado brasileiro precisa retomar seu protagonismo lá fora. E esta é a hora.


Ao contrário de commodities como a soja, exportar calçado significa alavancar uma enorme cadeia que vai da matéria-prima até a produção em si, passando pelo desenvolvimento de novas tecnologias e a importante etapa da logística. É emprego, é renda, é geração de riquezas e, em um momento de turbulência como o que estamos enfrentando, também de alento e de garantia de futuro. O novo normal é ainda mais desafiador, exige posturas ousadas e atitudes realmente inovadoras, longe dos velhos paradigmas. Neste contexto, retomar a vocação exportadora da cadeia coureiro-calçadista deve ser prioridade. Que o exemplo dos pioneiros quando da abertura de novos mercados no exterior sirva de inspiração para o presente.

Opinião - Jornal ABC - 12 e 13 de setembro de 2020